Category Archives: Curtas

Escrever faz-se com o corpo e o sítio onde se está

A quarentena confirma que a história do design é uma tarefa dolorosamente material.

Mudei de casa vai fazer dois anos, porque precisava de espaço para os livros e porque nos tornámos pais. A Susana já insistia há muito na sua vontade de morar perto do centro, numa casa maior, mas tornava-se cada vez mais difícil encontrar uma. Mandava-me todos os dias anúncios de sites de imobiliárias. Eu resistia, porque ainda tinha a crise bem presente. Não tinha a certeza de termos dinheiro.

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O que é feito da discussão?

Faz hoje dezasseis anos que comecei a escrever em público sobre design no meu blogue ressabiator. Fiz assim parte da primeira vaga de escrita online sobre design que haveria de caracterizar a primeira década desde século. Não o assinalo por nostalgia ou para me pôr em bicos dos pés. Quando comecei só queria uma plataforma para escrever, porque não havia nem periódicos sobre design ou sequer colunas regulares sobre design nos jornais e revistas generalistas.

Escrevi-o numa época onde a escrita e a discussão sobre design se tinham tornado instantâneos. Até ao fim da década de 1990, os debates públicos dentro do design gráfico eram de tal forma lentos e espaçados que se tornavam em eventos com a aura mística de um combate de boxe entre semi-deuses: Jan Tschichold vs. Max Bill, Jan van Toorn vs. Wim Crouwel, as Guerras da Legibilidade, etc.

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Alisar a curva

Mit Press (https://thereader.mitpress.mit.edu/flattening-the-coronavirus-curve-is-not-enough/)

É bem possível que a imagem gráfica que nos vai ficar desta epidemia do Covid-19 seja esta, a de duas curvas sobrepostas, uma elevando-se alta e estreita, a outra longa e achatada. A primeira curva ilustra a progressão livre do contágio, manifestando-se num pico de casos que ultrapassa os recursos do sistema de saúde. A segunda mostra como, através do isolamento social e da quarentena auto-imposta, se pode retardar a evolução da epidemia de modo a que as ocorrências se espalhem ao longo do tempo, mantendo-se abaixo das capacidades do sistema saúde. Em suma: ilustra, de modo simples, directo e eficaz, duas alternativas, duas estratégias, argumentando a favor de uma delas.

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re/Leituras

Com o fecho da faculdade por causa do Covid-19, tenho adiantado leituras (lista no fim do artigo).

Revisito o design de há uma década e meia. Penso no que será uma história específica do design, entendida não como uma história definida pelos objectos, instituições e praticantes do design, mas uma história com uma forma ou formas que se possam identificar.

Pergunto se há tendências, estilos ou movimentos dentro da história do design. Se é possível, por outras palavras, fazer uma história da história do design – tirando este post, ainda não escrevi nada.

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Moer, de Márcia Novais, uma obra de maturidade do design editorial português do século XXI

O livro Moer, de Ana Jotta e Ricardo Valentim, com design de Márcia Novais,☼ ganhou uma das medalhas de Bronze da fundação alemã Buchkunst para o melhor design de livros de todo o mundo. O galardão mais elevado, o Goldene Letter, foi atribuído ao livro suíço Almanach Ecart. Une archive collective, 1969-2019, de Elisabeth Jobin, Yann Chateigné, com design de Dan Solbach.

O livro de Novais é uma das dezassete publicações seleccionadas para o prémio Design de Livro 2019, promovido pela Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), de cujo júri fiz parte. Um dos objectivos do concurso da DGLAB é precisamente obter uma selecção do design nacional com o objectivo de concorrer por sua vez ao prémio alemão. Tanto quanto sei, é a primeira vez que um livro português atinge os lugares cimeiros – edições do ilustrador Bernardo Carvalho já tinham recebido menções honrosas.

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Four Counter-Narratives for Graphic Design History

Four Counter-Narratives for Graphic Design History from Aggzamatazz on Vimeo.

Uma curta apresentação de Aggie Toppins resumindo quatro contra-narrativas possíveis para uma história do design gráfico:
1. Marxist Counter-Narrative
2. People’s History Counter-Narrative
3. Decolonized Counter-Narrative
4. Intersectional Counter-Narrative

(Tenho usado de todas no trabalho que tenho feito, em particular no livro O Design que o Design Não Vê, cujo ensaio principal tenta articular todo este tipo de contra-narrativa)