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O centenário desaparecido.

W.A. Dwiggins usou a expressão design gráfico pela primeira vez no texto «New Kind of Printing Calls for New Design», publicado em Agosto de 1922 numa secção especial do Boston Evening Transcript dedicada às artes gráficas. 

Fez este agosto cem anos. Esperei em vão pelas celebrações. Como disciplina, o design adora este tipo de efeméride. As festas por ocasião dos cem anos da Bauhaus em 2019 incluíram livros, filmes, exposições e conferências. No caso de  Dwiggins, nada. Por quê?

Acredito que se deixou passar a efeméride porque se acredita que Dwiggins se limitou a nomear algo que já existia. Existe uma tendência dentro do design de acreditar que este existe desde sempre. Quando se acredita que o design já existe desde a idade da pedra, é paradoxal celebrar a criação de um nome.

Nomear não se limita a etiquetar uma realidade pré-existente. Pode ser um acto de ruptura. Quando Dwiggins escreveu que um novo tipo de impressão pedia um novo design, enunciava uma quebra com o passado. Propunha um «novo design».

Dwiggins propôs o design gráfico como algo novo e não apenas como uma nova designação.

É curioso que se diga sempre que Dwiggins «cunhou» o nome. O verbo sublinha um lado pessoal, popular. Porém, dentro do texto o uso era estratégico. Propunha uma nova actividade com um novo nome para modernizar a impressão. A expressão que criou foi de tal maneira adequada que viria a nomear uma área disciplinar durante décadas.

Tinta da China: um design inimitável

No que diz respeito ao design, é possível que a Tinta da China seja a editora portuguesa mais particular das últimas duas décadas. Desde os primeiros livros, e graças sobretudo ao talento de Vera Tavares, criou um lugar só seu, tão distante dos tiques da edição independente como da mais comercial.

Não se pode dizer que a Tinta da China seja influente porque ninguém a imita. Nem sequer aparecem más cópias. Penso que isso se deve ao facto de Tavares ser alheia às tendências e também aos vícios do design de livros português. Pensa o design dos livros como uma ilustradora, enquanto a maioria dos designers tendem a confundir tipografia e sobretudo impressão com design. Tavares trouxe por vias inesperadas o desenho de volta ao design numa época onde os dois se isolaram. Talvez por isso, consegue ser respeitada mas não imitada. Nos tempos que correm, seria preciso deixar de ser designer para a copiar.

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