Uma História Grave (5)

Mais outro comunicado confrangedor do Público.

Não deixa de ser notável a criatividade de autor, editora e jornal unindo esforços para menorizar e justificar o que é desde logo injustificável.

As justificações posteriores (que ocorrem apenas depois de divulgados os problemas) de que a ausência sistemática de notas de rodapé, de referências bibliográficas, da identificação de frases citadas através de aspas ou itálico e respectiva referência bibliográfica no que respeita a significativas partes de texto aconteceram contra a vontade do autor, porque o papel encolheu ou escasseou, os vols. “reduziram”, houve “economia de palavras”, ou “foram remetidos para o vol. 9” (que, no plano da obra inicialmente publicado, era um “Glossário”) não são verosímeis.

Estas justificações podem ser desmontadas olhando para os livros. Nos seis volumes publicados, existe referenciação bibliográfica. Uma coluna, ocupando um quarto da página típica, é reservada para notas e referências. Em muitas das passagens que assinalámos ao Público, é deixada em branco. A autoria de trechos copiados não é assinalada. Nem por referências, nem por aspas, nem por qualquer outra formatação.

Apresentamos aqui quatro páginas consecutivas, incluindo exemplos já enviados ao Público. Há trechos copiados quase literalmente cuja autoria não é sinalizada apesar da abundância de espaço na coluna da esquerda. Por contraste, há citações que são referenciadas, embora omitindo a identidade de quem realmente cita. Vitorino Magalhães Godinho e Orlando Ribeiro são citados por Augusto Santos Silva que não é referenciado. Onésimo Teotónio Pereira e António Ferronha são citados por Vítor de Sousa também não referenciado.

Note-se também como cópias não referenciadas de vários autores se sucedem sem transição. Não se trata apenas de falta de referenciação. É um problema estrutural do próprio texto.

Critérios correctos de referenciação bibliográfica não são negociáveis ou acessórios. São a essência de qualquer trabalho intelectual honesto, que respeita os seus pares e identifica as suas fontes, respeitando também os seus leitores.Não são um acessório que se introduza a posteriori em obra nenhuma, seja ela de divulgação, ficção, etc.