Monthly Archives: Dezembro 2022

Uma História grave (4)

Público pronunciou-se finalmente sobre os problemas da História do Design Gráfico em Portugal, de José Bártolo. (Reproduzimos em imagem o mail enviado aos leitores que compraram a colecção online.)

Escrevemos num post prévio que esses problemas comprometiam irremediavelmente a obra. O Público dá-nos razão ao anunciar que os volumes 1 e 2 serão «reimpressos» e «republicados» – ou seja, vão fazer uma segunda edição e retirar sem alarido a primeira de circulação.

A decisão derruba por implicação vários contra-argumentos entretanto avançados pelo responsável pela colecção: nem estes problemas podem ser resolvidos apenas com uma errata, nem estava previsto que as referências bibliográficas problemáticas fossem dadas no volume nove (ainda por lançar neste momento).

Por outro lado, o esclarecimento não esclarece quase nada. Nós enviamos para o Público oito «problemas graves» de «recurso deficiente às regras de citação». Em consequência, a distribuição da colecção foi suspensa. Na ocasião, o Público justificou-se numa breve nota no jornal impresso de 10 de Dezembro e na sua versão em pdf. Atribuía a interrupção a «motivos de força maior que não […] são imputáveis» ao jornal (essa nota não tem link disponível.)

Oito «motivos de força maior» e «problemas graves» levam à suspensão de uma obra, e têm como consequência a reescrita e reedição de dois dos seus volumes. Isso chega para fazer uma notícia?

Quais são os «problemas graves»? O que significa «recurso deficiente às regras de citação»? O Público encontrou mais ocorrências para além das que lhe comunicámos? Houve mais queixas? Só os volumes nos quais apontámos «problemas graves» vão ser reeditados; o Público avaliou os restantes? (Entretanto, também encontrámos situações semelhantes noutros volumes).

O Público falhou na sua missão. Como jornal e como instituição. Não expôs aos seus leitores os pormenores de um caso que ele próprio admite ser grave. Refugia-se em vocabulário vago. Não apresenta exemplos. Em suma: não informa os seus leitores.

Uma História Grave (3)

O Público divulgou finalmente um esclarecimento na questão da História do Design Gráfico em Portugal. Publicou-o ontem, 24 de Dezembro – talvez o pior dia do ano para prestar atenção a notícias. Como é apenas um esclarecimento, só é consultável na versão em papel, no pdf, e no mail enviado aos leitores que compraram a colecção completa. Não há link disponível. Não é sequer possível encontrá-lo num search da internet.

Deixamos aqui registada a nossa perplexidade com a forma como o Público demorou semanas a tomar uma decisão neste caso, apenas para a publicar deste modo. O seu próprio código deontológico prevê uma resposta em 96 horas. Quanto ao conteúdo do esclarecimento, em breve publicaremos um comentário.

Uma história grave (2)

Ainda sobre o assunto do post anterior:

Publico aqui o fim da passagem de Augusto Santos Silva transcrita sem atribuição nas páginas 37 e 38 do primeiro volume História do Design em Portugal (HDP).

No fim do trecho original, Santos Silva cita Orlando Ribeiro (imagem 1). Na HDP, a citação de Ribeiro é referenciada na margem, logo que surge no texto principal (imagem 2). Augusto Santos Silva não é mencionado.

Se Ribeiro é identificado de imediato, não há razão verosímil para que Augusto Santos Silva venha apenas a ser identificado num nono volume, editado dois meses depois. Qualquer leitor assumirá que as citações são identificadas na altura em que são feitas.

Uma história grave

No começo de Novembro, a minha colega Maria José Goulão, professora de História de Arte na FBAUP contactou-me porque descobriu erros graves nos primeiros volumes da História do Design em Portugal, de José Bártolo. É uma obra em dez volumes editada pela Esad de Matosinhos e distribuída com a chancela do Público. Havia gralhas, erros de identificação de obras e três instâncias de citações mal ou não atribuídas de todo, que podem configurar plágio. Enviou uma lista para o Público. Prontificou-se a elaborar uma recensão crítica. A direcção prometeu investigar.

Ela emprestou-me os seus exemplares anotados (eu comprei a colecção completa e na altura ainda estava à espera que me enviassem os primeiros cinco livros). Descobri, recorrendo ao google, mais cinco citações problemáticas. Uma delas ocupava mais que uma página. Reproduzo aqui, para exemplo, uma passagem copiada tal e qual, sem referência, de uma obra de Augusto Santos Silva.

A Maria José Goulão enviou esta nova listagem ao Público. No dia seguinte, a colecção foi retirada da loja online. Desde então, já não foram lançados novos volumes com o Público ao Sábado. O jornal não deu até agora justificações públicas. Indicou-nos que os serviços legais do Público estão a tratar do assunto.

Não vou especular sobre o processo ou os motivos que levaram a isto tudo. Tal deverá ser apurado em inquérito posterior. Os problemas são inegáveis. Qualquer pessoas munida de uma cópia dos livros e de internet os pode confirmar. Importa antes de mais avisar quem tenha comprado ou consulte a obra. O seu uso como referência parece-me irremediavelmente comprometido.

Declaração de intenções

Nos velhos tempos, o que eu fazia nas redes era escrever sobre design. Ainda é o meu interesse extra-net.

As duas áreas que mais me interessam são o movimento Arts & Crafts e as questões relacionadas com a política da imagem.

Não são exactamente assuntos populares dentro da disciplina. William Morris e os seus amigos são considerados bem intencionados mas falhados. Quanto à imagem, o design gráfico virou-se quase totalmente para a tipografia.

Porém, a política do movimento Arts & Crafts era bastante complexa. Os textos de figuras como Walter Crane têm sido uma janela para a génese do design como disciplina e a sua ligação ao imperialismo inglês, e em particular ao racismo.

Do lado da imagem, é curioso que neste momento a imagem é talvez o objecto de design mais acabado, mais trabalhado e mais generalizado. No entanto, a disciplina do design vira-lhe as costas neste momento crucial.