A tendência já é visível há muito tempo, mas este ano atingiu um ponto alto: espreitei a minha nova turma de História do Design (2º ano, todos os alunos desse ano da licenciatura) e em 55 só havia 5 homens.
Parece mais do que evidente que o ensino deve (e já está a mudar) em função disso. Muita da bibliografia e historiografia mais interessante das últimas décadas tem sido feita por mulheres e tratando precisamente o design feito por mulheres.
O modo como se aborda a profissão também muda de acordo com isso. Faz sentido uma abordagem mais crítica ao cânone e ao chamado design de estúdio – a prática tida como dominante, mas que agora é apenas uma entre muitas.
Penso que uma das causas da subida da extrema-direita também reside num backlash em relação a mudanças deste tipo, que já acontecem desde há muito, mas que só há pouco se revelaram qualitativamente, mudando costumes, modos de estar e estruturas institucionais.
Não considero que a extrema-direita seja o cerne da questão, mas o seu indício mais agudo. A reação a estas mudanças é generalizada e transversal, desde a esquerda à direita, de novos a velhos. Manifesta-se na já velha discussão em torno do politicamente correto – que mais não é do que uma discussão em torno da recalibração dos costumes, protocolo e cortesia social, quando a estrutura da sociedade se altera.