Esta é a segunda parte de um ensaio longo sobre uma crítica de Rick Poynor à exposição Forms of Inquiry (2007 – 2009). A primeira parte está aqui.
A argumentação de Poynor assenta em dois pontos: a) uma exposição caracterizada como sendo critical design deve referir os seus precedentes, b) que são realmente, no caso da Forms of Inquiry, os propostos por Poynor.
Sobre a): não há nada que obrigue um crítico – não apenas um critical designer – a enunciar sempre (ou de todo) os seus precedentes. E se qualquer crítico de cinema, de arte ou literário fosse obrigado a ditar as suas filiações a cada vez que fazem um ensaio ou recensão? O mais comum é essa informação surgir de modo orgânico e indirecto da acção continuada do crítico. Artigo a artigo, ensaio a ensaio, exposição a exposição, é possível perceber os precedentes, o estilo, os critérios, o carácter do crítico. A crítica constrói o crítico.
No que diz respeito a b), a continuidade proposta por Poynor também tem bastantes fragilidades. A primeira, e menos óbvia delas, reside no próprio conceito de continuidade e a sua pertinência neste caso. O que faz da continuidade um mecanismo privilegiado para fazer sentido crítico de fenómenos distintos? Porquê usá-la – aliás, impô-la – nesta instância?
Pode dar-se simplesmente o caso de Poynor estar a projectar a sua própria continuidade enquanto crítico num objecto que não a suporta – ou seja, a história de que Poynor fala pode ser apenas a sua própria. Enquanto crítico e historiador central dentro do design gráfico, Poynor tem um papel privilegiado na enunciação e tendência de padrões e afinidades entre praticantes, objectos, instituições ou eventos. Contribui com isso para a criação de um cânone que não se reduz a uma lista mas codifica também as relações entre os seus elementos – quem influência quem, quem tem similitudes formais com quem, quem frequentou as mesmas instituições. Ao enunciar no seu texto as relações institucionais, pessoais e conceptuais entre os designers da Forms of Inquiry e os seus supostos antecedentes, Poynor está assim a propor um cânone.
Nada disto é incomum, nem sequer a imposição de cânones sobre praticantes que neles não se revêem. O que torna este caso interessante é apenas a clareza do processo, a convicção forçosa do crítico que exige aos seus objectos que admitam o cânone que propõe. Pode-se observar o cânone a funcionar a olho nu.
(continua…)