A Sua Própria História (primeira parte)

Forms of Inquiry (exposta em IASPIS STOCKHOLM)


Comecei o monumentânea mais como uma revista (artigos longos periódicos) do que um blogue. Tinha como projecto escrever ensaios longos sobre história recente do design mas bem depressa me afundei em investigação. Para ajudar a sintetizar as ideias, decidi-me a tentar fazer textos curtos – estilo twitter ou Facebook – que me forcem a resumir assuntos complicados em poucas linhas. Mais tarde poderei juntá-los e desenvolvê-los.

O crítico de design e historiador Rick Poynor publicou em 2008 na revista Print o texto Critical Omissions, sobre a exposição Forms of Inquiry: The Architecture of Critical Graphic Design. É um documento notável por registar quatro tendências que marcaram o design de comunicação no começo do século:

1. O Critical Design, movimento iniciado pelos designers industriais Fiona Raby e Anthony Dunne (1999) e hoje representado por um número alargado de praticantes como por exemplo Francisco Laranjo e a sua revista Modes of Criticism (2015);
2. Aquilo que já foi designado por Subterranean Modernism, tendência ligada à edição, curadoria e pedagogia experimentais. Teve como publicação mais importante a Dot Dot Dot (2000 – 2010). A exposição Forms of Inquiry representaria esta tendência;
3. A revista Emigre, publicada entre 1984 e 2005. Um dos veículos históricos do Pós Modernismo no design de comunicação, tanto do ponto de vista gráfico como dos ensaios que publicou e das polémicas que iniciou;
4. A discussão em torno do Designer as Author, que marcou a segunda metade da década de noventa e começos de 2000.

Usando a exposição como fulcro, Poynor tenta articular numa narrativa histórica todas estas correntes. Os designers expostos seriam um movimento coerente, filiado no Critical Design, e descendendo da Emigre e do Designer as Author.

Porém, nenhum destes antecedentes era referido na exposição ou no seu catálogo, o que motivou uma dura crítica por parte de Poynor. Embora reconhecesse que a omissão poderia ser ditada pelo desejo de uma nova geração estabelecer a sua própria identidade, sentenciou que o: «Critical design só podia ficar a ganhar com a aceitação explícita e o questionamento consciente da sua própria história».

A acusação foi apenas o primeiro tiro da polémica que se seguiu. Os comissários Kyes e Owens responderam, contrapondo que «as obras expostas e os ensaios do catálogo reconhecem os seus predecessores; só não são os [que Poynor] endossa». Manifestaram-se surpreendidos que o crítico os tenha tomado por «um grupo definido de designers operando sob uma só bandeira formal e ideológica.» Também rejeitavam pertencer ao Critical Design e negavam a influência da Emigre. As discussões em torno do Designer as Author limitavam-se, segundo eles, a um exemplo das «polémicas insulares que caracterizam muito do design» da década de noventa. Stuart Bailey, um dos participantes, respondeu numa carta aberta publicada em 2010 no último número da revista Dot Dot Dot. Também ele manifestava a sua distância em relação ao critical design, à Emigre e aos debates do «designer como autor». Todos eles negavam, em suma, que aquela fosse «a sua própria história».

«A sua própria história» – esta noção intrigou-me. Como podia ser a «sua» história, se a recusavam? É certo que uma das responsabilidades do crítico e do historiador é estabelecer padrões históricos que, na maioria das vezes, passam desapercebidos aos seus protagonistas. Porém, neste caso o crítico/historiador estava a exigir aos seus alvos que admitissem como sua uma história que claramente rejeitavam. O que dava a Poynor a certeza que aquela era realmente a história dos designers da Forms of Inquiry?

E a estas juntava-se outra interrogação: Qual a natureza da história do design? Quem a produz? A quem pertence? Pode ser recusada?

(segunda parte aqui)