Comecei este novo blogue porque queria tratar a história do design, português e não só, nos últimos vinte anos. Comecei por aí, mas «desviei-me» para questões que não são secundárias mas de base. Parece-me crucial repensar os métodos pelos quais se pratica a história, de maneira a não cair nos vícios habituais da história do design. A saber: fazê-la unicamente como uma história das pessoas (designers ou clientes) ou das instituições (firmas, escolas, países, etc.).
É uma história da qual o próprio design me parece estranhamente ausente ou então subordinado a investigação que poderia ser perfeitamente ser produzida por outras histórias – de Portugal, das instituições, do ensino artístico, das áreas para as quais o design trabalha.
As unidades de estudo são quase sempre o indivíduo, a instituição que ensina, encomenda, produz ou patrimonializa o design. O resultado são narrativas onde o pensamento formal do design se limita breves apontamentos fragmentados servindo de adjectivação a análises biográficas, institucionais, económicas ou legais.
É óbvio que a história do design se deverá socorrer de todas as investigações que pareçam pertinentes, mas corre-se o risco de a tornar numa sociologia génerica que só por acaso trata do design. Ou, pior, corre-se o risco de ficar bloqueado num nível onde tudo o que interessa é encontrar ainda mais outra estorinha engraçada ou emotiva da vida de um velho praticante – de como o designer X pode ter encontrado o escritor Y na tertúlia do Café X e depois deixaram de se falar.
Não haveria mal nenhum em fazer esse tipo história mas tornou-se num beco sem saída. Faz parte do processo de trabalho ir falar com as pessoas, registar uma história oral pelas pessoas que a viveram. Porém, o problema é que tal não pode ser um fim em si mesmo. Sobretudo quando se tornou uma prática bastante territorial, tóxica e conservadora.
Pela minha parte, já não tenho paciência. Tanto mais que já tive a minha dose de discussão com gente que pensa ser esta a única maneira de fazer a história da disciplina. Apesar da aparência exterior acolhedora e coca-bichinhos, não há nenhuma abertura para outros métodos que não o coleccionismo de feira da ladra e de histórias engraçadas de velhinhos.

A exposição A Força da Forma foi a minha primeira tentativa de fazer uma história do design português onde as questões formais não fossem apenas adjectivos de relações pessoais ou institucionais. Tentei partir da forma e chegar daí à política, às pessoas e às instituições. Assim, foi uma narrativa de apropriações, de reutilizações, de roubos, de coisas que se faziam porque eram o oposto de outras. Agarrei em temas tornados estafados do design português, como o Almanaque, a &etc, a Kapa, o Independente ou o Sebastião Rodrigues e tentei demonstrar como os designers também se relacionavam uns com os outros através do design, de um modo vivo, afectivo ou antagónico. Tentei uma história do design onde o próprio design não se reduzia a uma ilustração.
Foi um processo difícil porque falta à história e crítica do design contemporâneo a vontade, o método e o próprio vocabulário para tratar a forma como um problema. Este blogue serve em parte para continuar a desenvolver métodos e objectos que possam expandir a maneira como se critica e historia o design.