
Já quando era aluno, um dos maiores problemas do ensino do design era nunca se falar de finanças. Referia-se a importância orçamentos. Pouco se adiantava para além de dizer que era essencial saber fazê-los. Penso que a abordagem vaga se devia ao facto de se tratar de patrões a ensinar potenciais funcionários ou concorrentes.
A minha geração de professores mudou um pouco o esquema, na medida em que nos tornamos na nossa maioria professores profissionais e não designers que vinham ensinar à escola. Contudo, a experiência do orçamento continuou a ser vaga. Éramos funcionários públicos a ensinar freelancers e outros funcionários. Com o tempo, e a recente empresarialização da universidade, muitos dos meus colegas tornaram-se de novo gestores de processos de design, patrões, de certo modo, mas agora dentro da própria instituição de ensino, dirigindo alunos como estagiários.
Estes alunos até ganhavam alguma experiência na parte dos orçamentos de produção mas continuavam sem saber grande coisa de orçamentar o seu próprio trabalho como freelancers. Como os estágios são não-remunerados, ficam sem saber gerir a sua carreira como funcionários de ateliers, empresas ou instituições.
Felizmente, têm aparecido cada vez mais iniciativas que ensinam aos designers o essencial da carreira de freelancer. Por exemplo, a designer Sofia Rocha e Silva, antiga aluna da Fbaup e da Esad de Matosinhos,☆ tem publicado no seu instagram uma série de dicas para freelancers, sob a forma de organigramas. São bonitos, concisos e a sua utilidade estende-se para além do design, podendo ser úteis a todo o tipo de freelancers.
☆ Com uma dissertação bastante interessante sobre coleccionismo em design.
Olá, professor! Obrigada pela referência, trouxe muita gente nova ao instagram e o feedback está a ser óptimo. Para quem se fixa no interior, como eu, esta comunidade online de freelancers é muito boa.
O meu ano entrou na FBAUP em 2008, mesmo a estrear a crise. O pessimismo quanto ao futuro trabalho em design pairou durante todos os anos do curso (embora ainda tenha havido um professor que nos garantiu que a empregabilidade em design era de 98%).
Hoje, olhando para os antigos colegas com quem tenho contacto, os que fizeram carreira em estúdios são sobretudo os que emigraram. Muitos dos que ficaram em Portugal, ou são freelancers ou mudaram de área.