
O Manuel de Sobrevivência é um projecto colaborativo da autoria de Bia Kosta e Ruben Roxo, profissionais recentes acabados de sair da Faculdade de Belas Artes do Porto. Inclui vídeos e podcasts.
A Bia Kosta já tinha feito um excelente documentário em Banda Desenhada sobre o ensino do design em Portugal. (Full disclosure: fui o orientador desse projecto e apareço na bd.) Visitou várias escolas, entrevistou alunos, assistiu a aulas. Não tenho dúvidas que será no futuro um objecto bastante interessante para aferir o estado do design actual, que se escapa ao formato mais formal da investigação escrita ou até do documentário filmado. Tem a curiosidade de ser uma reflexão sobre o design usando um formato gráfico.

O Manuel de Sobrevivência filia-se na mesma tendência do Dica do Freelancer, da Sofia Rocha e Silva (de que já falamos aqui) ou do Ladies Wine Design – Porto, da Laura Rodrigues, Mafalda Remoaldo e Mariana Simões (este é uma instância local de um projecto internacional).
A ambição destas iniciativas, patente na escolha dos nomes, é a um tempo informal e pedagógica, mas tem a virtude de procurar e conseguir sustentar uma prática de comunidade – algo bastante difícil dentro do design português. A tentação habitual tem sido quase sempre de procurar construir comunidades a partir do topo, legislando-as através de ordens e associações onde os designers seriam obrigados a estar. A comunidade brotaria destes currais.
Estes novos designers vão criando as suas comunidades sem estarem muito preocupados com cumprir os atributos do que se considera ser o debate ou a prática do design. Interessa-lhes navegar as decisões éticas, políticas e económicas do design dentro da sociedade actual, aprendendo-as, discutindo-as e transmitindo-as aos seus colegas.
A sua prática já assume a internet como um facto da vida. É significativo que a plataforma de eleição seja o instagram, uma rede social assente no tráfico de imagens e nem tanto os blogues, facebook ou twitter. O instagram tem sido uma base importante para novas experiências narrativas e gráficas, onde imagem e texto são usados para construir narrativas, identidades ou ideias políticas.
Para os novos designers que são também ilustradores, fotógrafos, criadores de vídeos, de memes, de banda desenhada, de música, é o suporte à medida da sua linguagem. Já chegamos ao tempo onde o discurso sobre o design será também ele gráfico e começou a exercer-se fora das tradições e formatos gráficos herdados do modernismo.
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