Com o fecho da faculdade por causa do Covid-19, tenho adiantado leituras (lista no fim do artigo).
Revisito o design de há uma década e meia. Penso no que será uma história específica do design, entendida não como uma história definida pelos objectos, instituições e praticantes do design, mas uma história com uma forma ou formas que se possam identificar.
Pergunto se há tendências, estilos ou movimentos dentro da história do design. Se é possível, por outras palavras, fazer uma história da história do design – tirando este post, ainda não escrevi nada.
Pela lista, talvez se perceba que ando concentrado a investigar o design nos anos 2000-2010. Tenho saltado das revistas de design ou com design interessante desse período para o Critical Design para o universo em torno daDot Dot Dot. Tenho resistido a fazer uma história cronológica do período – porque também tenho lido o trabalho do historiador Hayden White, sobre o modo como os historiadores impõem uma narrativa a uma matéria-prima que é por natureza caótica.
Tentando olhar para o começo do milénio com os olhos do historiador típico do design (um Meggs, por exemplo), pouco se encontra. É um período caótico onde tudo parece acontecer ao mesmo tempo. Os anos noventa demoram a acabar (a Zembla de Vince Frost) e parecem, por um momento, atingir uma sincronia precária com tendências mais recentes.
A Emigre reduz para um formato de bolso, quase puramente textual, aproximando-se de revistas literárias como a americana McSweeney’s ou da Dot Dot Dot. Porém, dedica o primeiro número da nova série, o 64, a maldizer duramente este tipo de revista.
Ou seja, a história a quase vinte anos de distância ainda é turva. Ainda não lhe foi imposta uma narrativa que a enrede, que lhe dê um enredo – usando o vocabulário de Hayden White.
Lendo White, apercebo-me que uma das grandes inovações dos últimos vinte anos foi um novo modo de escrever sobre história do design. White defendia que, a meio do século XX, o modo como se escrevia história ainda era, em termos literários, oitocentista. Acreditava que as artes tinham avançado para modelos narrativos não-lineares, fragmentados, experimentais, enquanto os historiadores continuavam a escrever a história como se fosse um romance do século XIX.
A observação é particularmente pertinente no campo da história do design. As históriad do design, de Meggs a Drucker & McVarish, apesar de se abrirem a novos assuntos continuam a ser lineares, assentes em enredos de progresso, etc.
Porém, designers como Stuart Bailey, David Reinfurt, Mark Owens ou Will Holder, produziram nos últimos vinte anos trabalhos de história do design tão experimentais na forma que custa até a vê-los como história de design – formatos que assentam em registo de performances, em assemblages, em automatismos e restrições semelhantes às do movimento Oulipo, etc. Relendo a Dot Dot Dot à luz das ideias de Hayden White, vê-se uma pequena revolução dentro da historiografia, não uma revolução completa mas uma heterotopia, pequena, perfeita e acabada.
O que ando a ler:
Design

Zak Kyes e Mark Owens (eds.), Architectural Association London, 2007






História


